sábado, 27 de maio de 2017

Piranhas, em Alagoas: o que fazer na terra do Cangaço

Quando Dom Pedro II desembarcou do barco em Piranhas, cidade às margens do São Francisco, ele ouviu de um morador uma constatação que seria repetida por inúmeros visitantes anos depois: “que solão”. O Imperador anotou em seu diário o gosto popular pelo aumentativo, esfregou o suor da testa e tentou enfrentar o calor do sertão alagoano.

Isso foi em 1859. Naquele dia Piranhas deu seus primeiros passos para ser conhecida nacionalmente. O povoado, importante parada comercial para os barcos que navegavam pelo Velho Chico, contava com menos de 400 residências. Muitas dessas construções históricas – incluindo sobrados, uma Torre de Relógio, igrejas, mirantes e uma estação ferroviária – encontram-se preservadas até hoje e já são um baita motivo para te levar até lá.

O que fazer em Piranhas

Piranhas

Mas tem mais. A cidade cresceu, entrou para o mapa turístico e o centro histórico de Piranhas foi tombado como Patrimônio Artístico Nacional. São quase mil edificações preservadas, todas coloridas e pintadas pela prefeitura da cidade. Não bastasse tudo isso, mais dois acontecimentos reforçaram a importância de Piranhas. O primeiro deles foi o Cangaço, fenômeno de banditismo que ocorreu no nordeste nos séculos 19 e 20 e que teve em Piranhas dois capítulos importantíssimos.

Em 1936, Piranhas se tornou célebre ao resistir a uma invasão de um grupo de cangaceiros comandado pelo temido Gato, que morreu ali. O detalhe é que a cidade estava sem soldados e que o delegado e mais oito militares fugiram assim que souberam da invasão. Foram moradores locais, do alto de suas casas, que impediram o avanço dos cangaceiros.

Dois anos mais tarde, Piranhas voltou ao noticiário. É que partiram dali os soldados que encontraram e mataram Lampião e seu bando, praticamente pondo um ponto final no cangaço. Sabe aquela icônica (e macabra) foto das cabeças dos cangaceiros expostas numa escada? Isso ocorreu na escadaria da Prefeitura de Piranhas, para onde os soldados voltaram depois da batalha da Grota do Angico.

lampião / degola

Imagem, de autor desconhecido, feita em Piranhas, em 1938

Não bastasse a história, na década de 90 um último ato fez de Piranhas um lugar ainda mais procurado. E dessa vez foi um alagamento. A criação da Usina do Xingó, no Rio São Francisco, formou cânions navegáveis de água esverdeada. Piranhas, em Alagoas, e Canindé de São Francisco, no Sergipe, são as duas bases tradicionais para explorar a região. Mas não se engane: pelas construções seculares, pela Rota do Cangaço e pela História, Piranhas é o lugar onde você quer ficar.

Veja também: Lampião, Maria Bonita e a história do Cangaço

Onde ficar no Cânion do Xingó: pousadas e hotéis

passeio Xingó

Cânions do Xingó

O que fazer em Piranhas: pontos turísticos

Chegamos em Piranhas no começo da tarde, quando já não era mais possível fazer passeios de barco – em geral eles saem de manhã. Por falar nisso, existem dois passeios. O mais tradicional sai de Canindé de São Francisco ou de Olho d’água do Casado, cidades vizinhas, e passa pelos cânions. Ele pode ser feito de lancha ou catamarã. O outro, que parte do píer de Piranhas, navega pelo leito natural do Rio São Francisco, passa por comunidades ribeirinhas e termina na Grota do Angico, local onde Lampião e seu bando foram vencidos.

Veja também: Passeio de barco pelo Cânion do Xingó

Como eu já dediquei outros textos só sobre esses passeios e os Cânions do Xingó, neste falarei apenas das atrações de Piranhas. Começando pela prainha de onde partem os barcos e que também é usada para banho. Boias marcam a área segura, guarda-sóis e cangas se espalham pela areia e um punhado de bares servem comida e bebida a poucos metros do rio. Almoçamos ali, com Velho Chico engolindo o horizonte.

Se de tarde o ponto de encontro é a prainha, de noite todos correm para o centro. Ali, em meio a restaurantes de todos os tipos, mesinhas se espalham pelas ruas e o forró toma conta – é assim todo final de semana e feriado. O estabelecimento mais conhecido é a Cachaçaria e Restaurante Altemar Dutra.

Rio São Francisco

Rio São Francisco – Vista a partir do Mirante Secular

 Além da noite, perambular pelas ruelas observando as casas coloridas e as quase mil construções tombadas pelo IPHAN já é um programão. Um dos mais importantes é o prédio da antiga Estação Ferroviária, construída no final do século 19 e anos depois da visita de Dom Pedro II. Hoje no prédio funciona o Museu do Sertão, que reconta a história de Piranhas e do cangaço. O local é pequeno e a entrada custa apenas dois reais. Os trilhos da antiga ferrovia foram removidos, assim como a rotunda, trilhos circulares usados para inverter o sentido das locomotivas – ela ficava onde hoje há uma praça e um campo de futebol.

Em frente ao Museu fica a Torre do Relógio, que fazia parte da estação e marcava a hora da chegada e saída dos trens. Hoje funciona no alto da torre um café, que abre de terça a domingo, das 15h às 20h. Esse é apenas um dos mirantes da cidade. Eu encarei os quase 400 degraus (e um monte de sapos) para chegar ao Mirante Secular, erguido no final do século 19. Lá, uma placa diz que “Os homens do século XIX saúdam os homens do século XX”.

pontos turísticos de Piranhas

No Mirante Secular funciona o restaurante Flor de Cactus, um dos melhores da cidade. Também é possível chegar de carro. O outro, no lado oposto, é o Mirante da Igreja, que também fica no alto de uma escadaria. Confesso que me cansei com a subida e deixei esse para uma próxima visita, mas parece outro ponto de vista interessante.

Descendo a escadaria, praticamente do lado da Torre do Relógio, está o Centro de Artesanato de Artes e Cultura, onde funciona diariamente, até às 18h, uma feira de produtores locais. Igrejas, como a Matriz de Nossa Senhora da Saúde, e casarões completam a lista de pontos turísticos.

Piranhas, Cânion do Xingó

Piranhas, Alagoas: informações práticas

Como chegar em Piranhas

Partimos de Aracaju. Até Piranhas são 220 km – espere gastar entre 3h e 3h30 no percurso. Dá para ir de ônibus, dá para fazer no esquema bate-volta, com diversas agências de turismo, mas eu acho que vale a pena passar pelo menos uma noite (o ideal é duas) na cidade.

Por causa da distância entre as atrações, que estão em estados diferentes, compensa muito alugar um carro. Neste texto aqui nós explicamos como alugar um veículo com melhor custo/benefício. Já nesse aqui está o passo a passo para ir de ônibus ou van para Piranhas a partir de Aracaju. Também é possível de Maceió. Só é um pouco mais longe: 270 km.

Piranhas, Alagoas

Onde ficar em Piranhas

Pousada Maria Bonita tem quartos simples, mas é perto de tudo e tem vista para o rio. Outra com vista para o Velho Chico é a Pousada Lampião Rio, assim como o Pedra do Sino Hotel, que tem uma vista espetacular da cidade, piscina e preços com bom custo/benefício, mas que está no fim de uma longa escadaria e ao lado do Mirante Secular.

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