segunda-feira, 15 de maio de 2017

O problema com as estátuas, tatuagens de Buda e souvenirs na Tailândia

O panorama de qualquer cidade tailandesa está sempre recortado pelas silhuetas pontiagudas das estupas que se erguem dos 33.902 templos budistas ativos no país. Estima-se que 93% da população da Tailândia seja praticante do Budismo e as práticas e ensinamentos dessa filosofia são tão arraigados na cultura local que é impossível separá-las. Os templos e estátuas de Buda, que fazem parte da rotina diária dos que nasceram ali, ajudam a criar a atmosfera idílica que, todos os anos, atrai milhares de turistas interessados em conhecer “A Terra do Budismo”.

A religiosidade do país, vista como exótica deste lado do mundo, talvez seja – ao lado das praias – um dos motivos pelos quais tanta gente escolhe a Tailândia como destino de férias. Mas não são raros os choques entre costumes locais e visitantes que, por desinformação ou negligência, acabam não agindo com o respeito exigido por ali.

Longe de ser homogêneo, o Budismo tem suas muitas variantes, e a maneira como ele é praticado no Sudeste Asiático difere muito da forma como ele é percebido, por exemplo, na Índia e na China, e ainda mais em países de cultura cristã. Nessa parte do globo que abrange Tailândia, Birmânia, Camboja e Laos, a vertente dominante é a Teravada, uma forma mais conservadora e estrita da religião.

Buda em Templo em Bangkok - Tailandia

O respeito à imagem de Buda é um dos aspectos que mais causam atrito entre visitantes e população local. Tanto que, em 2016, um turista espanhol chegou a ser deportado da Birmânia por causa de uma tatuagem de Buda na panturrilha depois que monges viram o desenho e alertaram as autoridades. Dois anos antes, o mesmo já tinha acontecido a uma turista britânica no Sri Lanka, outro país no qual o Budismo Teravada é largamente praticado. Embora eu não tenha encontrado casos parecidos de prisões ou deportações na Tailândia, a opinião sobre esse tipo de tatuagem ali é a mesma: é uma falta de respeito com a religião e, caso você tenha, faça o possível para mantê-la oculta.

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Religião na Tailândia: fé do outro lado do mundo

“Turistas veem essas tatuagens como moda”, afirmou Niphit Intharasombat, ministro da cultura da Tailândia, ao anunciar uma varredura em estúdios de tatuagem do país que ofereciam essas imagens sagradas a estrangeiros. “Eles não pensam no respeito à religião ou não estão cientes de que esse tipo de tatuagem pode ser ofensivo”, afirmou. Cartazes nas principais cidades turísticas do país tentam alertar: “Imagens do Buddha não são tatuagem, não são para decorar. São objetos de adoração”. Ainda assim, a demanda por souvenirs de Buda e de tatuadores que façam o serviço são enormes em todas as cidades onde existe aglomeração de turistas, muitas vezes por parte de pessoas que dizem admirar e respeitar a filosofia.

Qualquer devoto local, no entanto, não demoraria para refutar essas boas intenções. Há muitas formas de mostrar respeito e admiração pelo Buda e seus ensinamentos. Marcá-lo na pele ou usá-lo de tema para a decoração da sua sala não é uma delas. Se tem uma coisa que irrita os praticantes do budismo no sudeste asiático é a tentativa ocidental de reduzir a figura sagrada do Buda a um mero ícone cool. Ainda mais por pessoas que não demonstram conhecimento profundo sobre seus ensinamentos.

A imagem do Buda é o que eles têm de mais sagrado. Mesmo em casas de praticantes da religião – gente que conhece e acredita na filosofia – as estátuas não podem ser colocadas em qualquer lugar, de qualquer jeito. Ocupam sempre a posição mais alta, sem nenhuma outra fotografia ou ornamento acima delas, em um altar apropriado. Há uma maneira correta de se comportar em frente a essas imagens: sua cabeça deve estar sempre abaixo dela e, quando ajoelhado, a sola dos pés sempre devem estar voltadas para o outro lado.

O problema é que os governos locais desconfiam, com certa razão, de que quase nenhuma das estátuas e souvenirs de Buda que são vendidos a turistas no país receberá o tratamento adequado em sua nova casa. É por isso que nem a compra, nem o transporte do produto são proibidos: você pode até levar seu Buda com você, mas precisa de uma autorização especial para isso, na qual você deverá provar sua relação com o Budismo. Caso contrário, a mercadoria pode ser apreendida e você pode ter que pagar uma multa.

E se para você tudo isso parece exagero, pense na pessoa mais religiosa que você conhece. Imagine o que ela diria se encontrasse uma imagem de Jesus crucificado como um mero objeto de decoração por pessoas que não acreditam nela – “porque achei bonito” -, desprovendo-o assim de qualquer significado religioso e disposta de uma maneira completamente inapropriada e ofensiva para a cultura cristã . Digamos que essa imagem de Jesus estivesse ao lado de, sei lá, uma imagem profana (vou deixar vocês usarem a imaginação aqui), ou de cabeça para baixo. Imagine se alguém de fora invadisse a casa dessa pessoa para fazer isso. É isso que os turistas fazem todos os dias quando exibem por aí suas tatuagens ou compram Budas para distribuir como souvenirs.

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